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O financiamento nas suas várias modalidades (crédito bancário, fundos da União Europeia, capital de risco ou mercado de capitais para citar só algumas) depende em larga medida do risco percecionado das empresas que pedem financiamento.
O setor financeiro concede crédito, subscreve obrigações ou toma capital de uma empresa, apenas após avaliar a sua capacidade em devolver o capital, bem como a variabilidade dos seus fluxos de caixa futuros e a remuneração que reflita esta variabilidade.
Deste modo, setores com maior exposição a eventos adversos ou maior volatilidade de resultados podem ver o seu financiamento mais difícil ou com maiores custos.
A consciencialização para os temas de sustentabilidade, de que as alterações climáticas são o maior exemplo, trouxe para a análise de financiamento uma nova perceção e categorização de riscos.
A crescente frequência e severidade de eventos climáticos extremos, como cheias ou incêndios florestais, tornou claro o potencial de afetar a atividade das empresas e da sua cadeia de valor. Para os bancos e outros financiadores, este acréscimo de risco passa a fazer parte da sua análise porque a própria capacidade da empresa de responder aos seus compromissos pode ser afetada.
Por este motivo, cada vez mais os financiadores pedem informação às empresas que permita aferir a sua situação atual, a sua exposição a riscos físicos, e as suas práticas ESG incluindo eventuais medidas em prática que possam mitigar riscos de sustentabilidade. Esta prestação de informação adicional é um fator crítico de sucesso para empresas que pretendam crescer ou manter-se em atividade e precisem de fundos externos.
A título de exemplo, há duas métricas que as empresas terão de calcular e apresentar aos seus financiadores:
- O cálculo das emissões de Gases de Efeitos de Estufa (GEE), idealmente incluindo os âmbitos 1, 2 e 3
- A elegibilidade e/ou alinhamento das atividades da empresa com a Taxonomia Ambiental, em 3 indicadores (peso no volume de negócios, no Capex e no Opex) especialmente relevante para candidaturas a fundos europeus.
O relato de sustentabilidade surge assim como um instrumento útil para o autodiagnóstico, permitindo uma melhor perceção interna das práticas ESG da empresa; e igualmente no relacionamento com a cadeia de valor e com os financiadores, contribuindo para o aperfeiçoamento da jornada de sustentabilidade.
Os temas de ESG são, portanto, uma ferramenta central no relacionamento das empresas com os seus financiadores, e com procura crescente por estes últimos. Porque os financiadores são eles próprios avaliados pelos seus investidores e pelas autoridades, e o risco dos seus investimentos incorpora também os temas de sustentabilidade.
Cabe agora às empresas identificarem as suas métricas, as suas práticas internas, calculá-las e divulgá-las num formato que seja transparente e de aceitação generalizada. Caso não disponham de recursos internos para este propósito, poderão recorrer a ferramentas externas, idealmente transversais para facilitar o uso e comparabilidade pelos financiadores, e com benefícios para as empresas que possam de uma só vez prestar informação a vários bancos ou outros financiadores.
Em conclusão, a sustentabilidade e os temas ESG são mais do que um instrumento de desenvolvimento da empresa e de alinhamento com as aspirações da sociedade: são também uma variável-chave na equação do financiamento e no relacionamento das empresas com os seus financiadores. Ignorar esta variável ou desconhecer o seu valor tem um preço imediato: o juro pago.